MÃE SEM RETOQUES: O QUE PERDI QUANDO DECIDI ME TORNAR MÃE…
Me tornei mãe aos 21 anos. Mas mãe de verdade, aquela que não perde um segundo da vida do filho, que aprende, chora, ri, que faz do filho a prioridade da sua vida, isso só aconteceu aos 27.
Antes eu era a mulher, a filha, a amiga, a profissional… Claro que meu dia só tinha 24 horas como o de todo mundo, mas era tão dividido que sobrava muito pouco tempo pra ser
de fato mãe, e eu achava que estava tudo bem… Que eu “dava conta de tudo”
Um dia a baba pediu demissão, e meio que no automático comecei a acumular
mais funções, até que um dia, deitada no sofá depois de faxinar a casa toda
comecei a pensar que eu não precisava faxinar a casa.
Lembrei que o meu mais velho estava com a rinite atacada, percebi que tinha faxinado a casa
por ele… E os pensamentos continuaram, eu normalmente pagaria uma faxineira, mas ele precisou de uns lápis novos na escola e aí não dava, era uma coisa ou outra… Comprei os lápis, e fui adiante lembrando das razões das maiores atitudes da minha vida, e o motivo ou a motivação era sempre a mesma… O meu filho!Tentei me lembrar de muitos detalhes da vidinha dele e não me lembrei, pois eu não estava lá, estava muito ocupada sendo filha, mulher, solteira, amiga… E profissional… Me bateu então uma sensação estranha, comecei a me perguntar dos porques…
Por que trabalhar tanto? Porque me desdobrar pra superar as expectativas que tinham em relação mim?
Pra que fazer tudo em prol de um ser humaninho que eu não estava de fato vendo crescer? Foi aí que eu decidi que ia ser mãe!
Sim, de maneira consciente. Eu tomei a decisão de aproveitar a maternidade e me dedicar 100% à criação dele.
Como toda escolha, esta me trouxe consequências…
Desde que escolhi ser mãe em tempo integral nunca mais fui ao banheiro de porta trancada, e tem dias que eu durmo na cama dele, de roupa e tudo, acordo meia noite e vou lavar o cabelo, que é quando me sobra tempo!
Nunca mais fui ao cinema, aliás, até fui, mas pra ver filmes com censura livre.
Deixei de tomar decisões baseadas no que eu queria, para me basear no que a minha família precisa.E amigos? Bom… alguns infelizmente não conseguiram entender o tempo e a dedicação que demanda essa função integral, e foram se afasatando…
E até eu aceitar que este caminho não tinha volta e que seria de grande evolução, não foi fácil, doeu ver pessoas tão queridas seguindo suas vidas sem que eu fizesse parte ativa delas. Doeu entender que a partir de agora, tudo seria por minha conta, que todas as decisões seriam tomadas por mim e sem pensar em mim… Doeu!
Mas se me permitem ser bem sincera, eu sempre tive um medinho de trancar a porta do banheiro e ficar presa (coisa de trauma infantil), atitudes altruístas contribuem demais para o meu crescimento pessoal, fazendo me sentir muito bem comigo mesma.
E quanto aos amigos antigos? Bom, mesmo distante continuo os amando profundamente, mas esta maternidade me trouxe outras pessoas, aumentou ainda mais minha rede de apoio e amizade, trouxe amigos que entendem caso eu não responda uma mensagem ou desmarque um encontro…
A cada dia meus meninos me ensinam algo que eu não sabia que tinha, qualidades e habilidades dignas de uma heroína!
Sim, antes o meu dia tinha 24 horas e eu me dedicava um pouquinho pra cada área achando que estava ótimo. Hoje, as horas são as mesmas é só tenho que me dedicar a um aspecto, mas a sensação que tenho é que eu precisaria de mil anos da minha vida antiga pra valer um cantinho de sorriso de quando eles sorriem pra mim. Que 5000 dias antigos cabem em 5 minutos de minhas manhãs, tamanha a agitação. Portanto, quando penso no que eu perdi por causa da maternidade, vejo que na verdade ganhei muito mais!É um caminho difícil, doloroso e sem volta. Isto é bem verdade, mas não troco um minuto da minha vida atual por 1000 anos da vida antiga!
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