“AMAR SE APRENDE AMANDO” DO MITO DO AMOR MATERNO ÀQUELE QUE PODE SER CONQUISTADO
Por Carla Cristina Almeida Teixeira
Recentemente completei meu aniversário de 12 anos como mãe, tempo esse que me fez amadurecer muito, e perceber como foi importante para meu crescimento como mulher e também como formadora de opinião no papel desta na sociedade atual que vivemos.
Ainda me lembro bem dos meus sentimentos e pensamentos com relação a maternidade antes de vivenciá-la, imaginando o quão lindo era poder cuidar de um ser que seria um pedaço meu o qual eu traria ao mundo.Me imaginava com um bebezinho cheiroso nos braços, o amamentando com um sorriso largo no rosto assim como via na propaganda de amamentação do governo e nas revistas quando as artistas tinham filhos, e passava noites pensando como seria o meu dia como uma mãe feliz. De repente esse dia chegou e aquele grande momento se concretizou, eu só não entendia porque junto com minha filha não nasceu àquela mãe perfeita que eles tanto falavam, pois simplesmente me vi com um bebezinho no colo que quando chorava me dava vontade chorar também, uma vez que tinha que descobrir o que ela queria…
Eu me sentia depressiva e não me reconhecia mais, afinal já não mais dormia, não comia direito e nem conseguia tomar um banho, meu corpo cheirava a leite, meu seio sangrava e doía quando eu amamentava e meu dia se resumia a querer que ela dormisse para que eu pudesse satisfazer minhas necessidades básicas. Só lembro de me sentir a pior mãe do mundo por isso, afinal ninguém me contou que eu poderia sentir saudades da vida de antes, e tudo que eu sabia sobre as mães é que elas nascem amando e que ser mãe é a melhor coisa do mundo ( e é!).
Os dias foram passando, as noites mal dormidas já eram rotina e eu já havia me acostumado, o berço se tornou enfeite e a cama compartilhada por nós duas foi sendo nosso palco do maior e mais puro vínculo. Os seios já estavam cicatrizados e o momento da amamentação começava a ser prazeroso, pois era ali que os meus olhos se encontravam com os dela e eu podia sentir o agradecimento não só pelo alimento, mas pelo contato e carinho que aquele ato proporcionava. Enquanto isso seus dedinhos apertavam os meus e nenhuma palavra era dita, mas um turbilhão de emoções e sentimentos naquele momento se apresentava, era a disponibilidade de uma amar a outra, um amor que estava sendo conquistado e feito a partir de contato e vínculos.
Vale ressaltar aqui que a formação de vínculos é extremamente necessária para os bebês, desde o seu nascimento para que haja uma construção de suas funções mentais e uma evolução psicológica saudável. Este acontece a partir da uma relação estável dos bebês com suas mães (ou pais!) sendo essa relação construída no dia a dia e por mais que existam fatores de ordem biológica que podem favorecer a criação dos vínculos, não são suficientes para explicá-los.
O vínculo pode ser descrito como um comportamento de grande interação entre uma criança e sua mãe. Os cuidados dispensados às crianças simbolizam um investimento afetivo de um para com o outro. Os bebês apresentam sinais como choro, quando está com fome, sono, dor ou incômodo, e assim, suas mães ou cuidadores(as) o oferecem colo, alimento e cuidados. E esse contato faz com que haja um estimulo nos seus vários sentidos, gerando uma satisfação ou não. A partir deste processo contínuo de interações entre os dois, o vínculo afetivo entre eles vai se construindo e as crianças têm seus primeiros contatos com o mundo.
O vínculo é um fazer-se, um processo que depende da participação, dedicação e disponibilidade de ambos os envolvidos, e assim foi acontecendo com nós duas pela forma de eu segurar, conversar e embalar minha filha, além da maneira como eu reagia como ela chorava, acalentando-a e pressionado contra meu corpo e beijando-a quando chorava. Tudo isso fazia com que aprofundasse a nossa relação afetiva e que aqueles momentos se tornassem tão especiais e inesquecíveis pra mim.
Através da literatura verificamos que é nessa relação com o cuidador (a) que os bebês vão constituindo seus esquemas de percepção, motores, cognitivos, desenvolvendo a linguagem e reforçando o vínculo afetivo com sua mãe.
E demorou para que eu entendesse que aquele grande amor de mãe que todos falavam não era inato e sim conquistado ao longo dos dias passados ao lado do filho, e por ocasião dos cuidados que os dispensamos, não só quando são bebês, mas em qualquer fase de suas vidas que precisem da mãe. E isso não significa que uma mulher não possa amar os(as) filhos(as) sem estar perto ou cuidar deles(as). Isso é possível e até comum, mas, antes de tudo, é necessária uma disposição das mulheres para fomentar este sentimento de amor por eles.
Porém, ainda nos dias de hoje, as ciências da saúde, a literatura e a mídia contribuem para disseminar a ideia do amor materno como um instinto natural e aceitar esta proposição como verdade é não ter resposta para tal questionamento: Se o amor materno é natural, como podem filhos serem jogados ao lixo e serem abandonados em lugares que dificilmente seria possível a sua sobrevivência? Ainda com um pensamento menos radical, mães colocam filhos no mundo sem dar atenção ou mesmo descobrem que aquilo que imaginavam não é bem o que queriam para si, e que apesar de gostarem do filho ser mãe não é o bem que desejavam…
O fato da mulher ter uma predisposição biológica natural para gestar não está diretamente relacionado ao amor materno e desromantizar isso se torna cada vez mais necessário para que as que não desejam ser mães não se sintam discriminadas e para que aquelas que estão vivendo o período de adaptação da maternidade e não é bem do jeito que pensavam possam viver esse momento sem culpa.
Eu acredito que o mais importante é poder ter a decisão da escolha, afinal ninguém é obrigado a querer ser mãe, mas se assim desejar, ame-o! porque parir é um ato natural, mas amar o filho é um ato social. E, sendo assim, qualquer mulher pode aprender a amar uma criança, mesmo não sendo dela.
O lado difícil da maternidade existe e ele é necessário para o nosso crescimento e aprendizado por isso é necessário expor, mas o fato é que o que persiste são os momentos incríveis e maravilhosos que passamos ao lado dos nossos filhos e estes que temos vontade de compartilhar com nossos amigos e familiares e por isso ele é tão falado.
Muitas mulheres são extremamente felizes com a maternidade, assim como eu, que gostei tanto que repeti por mais duas vezes essa experiência depois desta e agradeço todos os dias por poder ter vivido isso, e vir aqui contar um pouquinho pra vocês. E enquanto essa essência do amor materno continua misteriosa, vamos crescendo juntas, evoluindo, inventando a cada dia uma nova maneira de amar e apaixonando-se cada dia mais por essa deliciosa aventura que é ser mãe!
Carla Cristina Almeida Teixeira
35 anos- Pedagoga pela Universidade Federal de Viçosa.
Apaixonada pela educação e maternidade.
É mãe da Ana Júlia, Giovanna e Laura.
Fotos: Arquivo pessoal